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CIRCUITOMATOGROSSO
CUIABÁ, 18 A 24 DE OUTUBRO DE 2012
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CIRCUITOMATOGROSSO
CUIABÁ, 18 A 24 DE OUTUBRO DE 2012
CAPA
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G
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ÚLTIMA HORA
Herança maldita aguarda próximo prefeito no Palácio Alencastro
CUIABÁ
A cada nova gestão, problemas de décadas continuam se arrastando e impedindo que a população tenha qualidade de vida.
Por Mayla Miranda e Sandra Carvalho. Fotos Pedro Alves
No dia 28 de outubro
população cuiabana vai
leger o próximo prefeito
a capital. Nesses dias que
ntecedem o pleito, os
andidatos Lúdio Cabral
PT) e Mauro Mendes (PSB)
ogam todas as cartas em
usca do convencimento
o eleitor e da vitória nas
rnas. Entre troca de
cusações e promessas de
ma nova Cuiabá a partir
e janeiro de 2013, Lúdio
Mauro correm atrás do
esejo de receber a faixa
e prefeito e assumir a
dministração da capital
ato-grossense no alto do
alácio Alencastro.
Mas o
ue aguarda o futuro
refeito? Uma cidade
heia de problemas e uma
opulação descrente e
ofrida. Herança de
estões anteriores, de
rupos que não
orresponderam à
xpectativa do eleitor e de
utros que ainda, por mera
ncompetência ou atos
scusos, deixaram a
idade ainda pior do que
encontraram.
A saúde é um dos
etores mais críticos da
estão municipal e um dos
rincipais motes de
ampanha dos dois
andidatos.
O caos na
aúde pública de Cuiabá
ão é nenhuma novidade,
as a situação vem se
gravando
radativamente.
ecentemente o governo
eixou de repassar à
ecretaria Municipal de
aúde mais de R$ 9
ilhões. A
ndisponibilidade da verba
irecionada aos hospitais
úlio Muller, Santa Casa,
anta Helena, Hospital
eral Universitário,
ospital do Câncer,
ronto-Socorro de Cuiabá
Cuiabá hoje
mais parece um
canteiro de obras
por conta das obras
da Copa do Mundo
de 2014. São obras
com cunho
específico e que,
com certeza, serão
importantes para a
população. No
entanto, basta dar
uma passadinha por
alguns bairros da
cidade para ver que
houve muita
promessa para
poucas realizações.
Ruas sem asfalto,
esgoto correndo a
céu aberto,
moradores sem título
de propriedade...
A Prefeitura
anunciou uma série
de obras com
recursos próprios. A
questão é que
muitas delas não
foram concluídas
ou, pior, nem sequer
foram iniciadas. Um
exemplo claro desta
situação é o bairro
Jardim Renascer,
localizado nas
proximidades da
Universidade
Federal de Mato
Grosso (UFMT).
Proveniente de uma
ocupação há 12
anos, os moradores
receberam diversas
Canteiro de obras no centro.
Na periferia, abandono
Uma das sedes da
opa do Mundo de 2014,
uiabá dá uma lição de
alta de incentivo às práticas
sportivas e ao lazer.
uadras abandonadas,
raças tomadas pelo mato e
lixo, em toda parte da
idade este tipo de cena é
requente,e isto tanto na
egião central quanto nos
airros mais afastados.
Atualmente existem 17
spaços destinados a
ráticas esportivas na
idade, dentre eles centros
sportivos, centros
omunitários, complexos
sportivos e ginásios. São
ocais onde deveria ocorrer o
Má gestão dos recursos
públicos, improbidade
administrativa,
incompetência e,
principalmente, desrespeito
ao cidadão contribuinte. Só
isso pode justificar o
abandono de obras que
deveriam proporcionar
maior qualidade de vida
aos cuiabanos.
Um exemplo de
descaso do poder público é
a cozinha comunitáriado
bairro Tijucal que já deveria
estar funcionando há mais
de um ano.Iniciada em
2009,
a obra envolveu R$
151.476,94.
A cozinha
deveria servir 300 refeições
diárias, atendendo crianças
de um a sete anos,
gestantes, nutrizes e idosos,
todos dentro do perfil do
Programa Bolsa Família.
Tudo isso não passou de
discurso.
O prédio,antes
equipado e apresentando
ótimas condições de uso,
agora está depredado e os
equipamentos simplesmente
desapareceram.
Dentro do ambiente o
cheiro é insuportável e há
vestígios do consumo de
drogas no local, que foi
construído para ter uma
estrutura bem arejada e
hoje é o retrato do descaso.
Na saída para o
Coxipó do Ouro, a obra do
Para Dona Sirilia de Oliveira, 81 anos,
moradora do bairro Areão, a falta de
planejamento na construção das casas e de obras de drenagem no bairro atinge diretamente
seu cotidiano, já que toda vez que chove ela enfrenta inundações na sua residência.
O Mercado Municipal
de Cuiabá,que antes era um
marco do comércio da
capital e parte da cultura dos
moradores da região,hoje
mais parece um cortiço. Entre
os poucos comerciantes que
ainda tentam atuar ali,
sobram sinais de abandono
e desleixo que só fazem
afastar a freguesia há anos,
como estrutura precária,
banheiros depredados, mau
cheiro gerado pelo acúmulo
de lixo e pela falta de
limpeza, falta de iluminação
pública e de segurança,
mendigos e dependentes
químicos dormindo pelos
cantos. Uma simples
caminhada pelo local
evidencia a estrutura
precária, fiação elétrica
oferecendo riscos e más
condições das calçadas, das
paredes, dos pilares.
Embora alarmante, o
cenário não é de hoje. É por
isso que o presidente da
Associação dos
Comerciantes do Mercado
Municipal,Sebastião Luciano
Freitas de Paula, afirma ter
expectativa zero” em
relação ao lugar onde tem
tentado sobreviver há mais
de dez anos.
Nós já tentamos de
tudo, diversas reuniões na
Prefeitura, mas entra prefeito
e sai prefeito e continuamos
e a outros setores de
atendimento à saúde da
população gerou uma
ameaça de corte no
atendimento pelo SUS
nestas instituições.
Sem repasses
regulares, a precarização
do atendimento se agrava.
O problema acontece
desde a atenção básica
até aos pronto-
atendimentos. Nos postos
de Programas de Saúde
da Família (PSFs) faltam
profissionais para realizar
os atendimentos, os
médicos contratados pela
Prefeitura alegam que os
baixos salários e a falta de
estrutura física e,
principalmente, de
materiais, deixam o
trabalho inviável.
A situação é tão
complicada que não é raro
ver os exames solicitados
não serem realizados. Já
se chegou ao extremo de
um médico solicitar um
exame de ultrassom para
uma gestante, a criança
nascer e o exame não ter
sido realizado”, informa a
presidente do Sindicato
dos Médicos de Mato
Grosso (Sindimed), Elza
Queiroz.
Nesta segunda (15), a
equipe do
Circuito Mato
Grosso
esteve na
Policlínica do Planalto e
constatou a precariedade
do atendimento. Pessoas
há mais de cinco horas na
fila, com fortes dores,
crianças, idosos, todos
misturados e praticamente
implorando por
atendimento. “Eu cheguei
por volta do meio-dia,
com pressão alta, tontura e
forte dor no braço e agora
já são quatro horas da
tarde e não fui atendida”,
desabafou a dona de casa
Maria Auxiliadora Silva,
que ainda declarou já ter
procurado outras
policlínicas que estavam
fechadas para reforma.
Dona Aline Trindade,
73
anos, que também
esperava há horas por
atendimento com dores nas
articulações, não conseguia
se locomover sozinha. “O
pior é que eu nem sei se
vou ser atendida, já que
outras pessoas já desistiram
e foram para casa. Eu
estou aqui há mais de
quatro horas, com fortes
dores. Isso porque dizem
que idoso tem prioridade.
Eu não vi nada disso, nem
hoje e nenhum outro dia
que procurei a saúde
pública de Cuiabá”,
declarou.
Relatos como esses
são frequentes e o cenário,
bastante tumultuado, com
pessoas visivelmente
debilitadas, deitadas nas
cadeiras de espera, com
crianças de colo e apenas
um médico dentro da
unidade para atendê-las.
Procurada pela
reportagem, a direção da
Policlínica do Planalto não
quis se pronunciar sobre o
assunto.
propostas de
regularização, inclusive
foram iniciadas no
bairro obras do
programa Poeira Zero,
de autoria da Prefeitura
Municipal.
Segundo relatos de
moradores, após o
asfaltamento da avenida
principal do bairro (que
inclusive não fez parte
do programa Poeira
Zero), as obras foram
paralisadas. Alguns
maquinários foram vistos
no logo de lançamento
do programa, mas há
mais de seis meses
nenhuma obra em
andamento no bairro.
Entra prefeito e sai
prefeito e nós ficamos
aqui, só com as
promessas. Enquanto
isso nossos filhos têm
que andar no meio do
esgoto. Aqui falta tudo:
água, coleta de lixo,
transporte. É difícil viver
assim”, informou
Odelzina Batista, dona
de casa que mora no
Renascer desde sua
fundação. Esta situação
se repete na maioria dos
bairros da capital. Em
tempos de seca, a
população sofre com a
poeira e falta de água e
no tempo das chuvas
com a lama e
inundações.
Aqui só fizeram
asfalto na rua
principal para a
passagem do ônibus,
então o problema é
que quando chove o
barro das ruas
próximas ao asfalto
invadem a avenida.
Isso, é claro, quando
passa ônibus aqui, já
que muitos
moradores têm que ir
ao bairro vizinho
para pegar um
ônibus”, disse
Epaminondas
Francisco, pintor e
morador do Jardim
Renascer.
SANEAMENTO
Segundo dados
divulgados durante a
concessão da
Sanecap para a CAB
Cuiabá, hoje apenas
50%
das famílias
recebem água
regularmente nas
torneiras; a coleta do
esgoto doméstico só
atinge 39% do que é
produzido na cidade
e, do que é coletado,
apenas um percentual
de 29% recebe
tratamento. Isso
significa que pelo
menos 73% do
esgoto produzido na
capital são
despejados
in natura
no Rio Cuiabá ou vão
contaminar o solo.
Pacientes se humilham por atendimento nas
policlínicas, sempre lotadas e sem médico
Como ainda não há um hospital infantil na capital,
crianças sofrem à espera de atendimento
O tão anunciado Poeira Zero ainda não garantiu asfalto nos bairros, apesar do alarde
Sem saneamento, população convive com a água
suja dos esgotos correndo a céu aberto
Serviço de coleta de lixo continua
irregular por toda a cidade
ESPORTE E LAZER
Depredação
desenvolvimento de
atividades esportivas com
grande participação da
comunidade. No entanto,
dois desses espaços – o
Centro Esportivo Gustavo
Cid Nunes da Cunha,
conhecido como Ginásio da
Lixeira, e o Centro Esportivo
João Balduino Curvo,
conhecido como Ginásio do
Quilombo – deixaram de
cumprir sua finalidade e hoje
estão abandonados e muitas
vezes são utilizados como
abrigo para famílias
desalojadas.
Os dois
ginásiosjá foram palcos de
grandes campeonatos de
futsal e de vôlei.
No Ginásio da Lixeira,
por exemplo, a comunidade
tinha um espaço com
quadra poliesportiva,
pracinha ao redor, campo
de futsal e campo de área e
um miniparque de diversões
para as crianças menores.
Hoje,a situação do espaço é
degradante. Moradores da
região lamentam o descaso
por parte da Prefeitura com
um bem tão precioso para o
desenvolvimento e o lazer da
comunidade. “Eu me lembro
de diversas vezes vir ao
ginásio até mesmo de noite
quando tinha iluminação,
era uma grande felicidade
para todos nós. Aqui vinham
pessoas de toda a cidade
para ter um momento de
diversão. Hoje é muito triste
ver este lugar assim,
abandonado e tomado por
usuários de drogas”,
declarouAndreza Joãobele,
filha de família tradicional
do bairro, que ainda conta
que há mais de 30 anos os
seus pais vivem no mesmo
local e sentem muita tristeza
de ver o abandono do
bairro. Enquanto o espaço
não é recuperado, é fácil
flagrar crianças no meio das
ruas brincando, correndo
grande risco de serem
atropeladas e até mesmo
aliciadas por pessoas mal-
intencionadas.
Aqui o abandono do esporte e lazer se
mistura ao esgoto a céu aberto
OBRAS PARALISADAS
Desperdício
propalado Terminal Turístico
da Ponte de Ferro
desaparece entre o mato. A
Prefeitura chegou a construir
no local um posto policial,
sete quiosques com
churrasqueiras e uma loja
de conveniência do outro
lado da rua.
O problema é
que as obras só começaram
e não foram concluídas,
deixando um grande rastro
de abandono. Tudo está
cheio de lixo e o mato toma
conta da obra. A verba
destinada somente para
essas melhorias foi de R$ 1
milhão desde 2007 e até
hoje não foi concluída.
Logo no centro na
capital, o que poderia ser
um interessante cartão de
visita é outra marca da falta
de compromisso do gestor
municipal com as obras
públicas.
O Centro de
Atendimento ao Turista
(
CAT), construído na Praça
Rachid Jaudy, simplesmente
não funciona. Inaugurado
em 2007 com a proposta
de atender aos visitantes da
cidade, não passa de uma
obra sem finalidade,
quando poderia chegar à
Copa 2014 como um
importante ponto de apoio
aos milhares de pessoas que
aqui aportarão para assistir
aos jogos do Mundial.E
também o não menos
divulgado Rodoanel até
hoje não saiu do
papel.Esses foram apenas
alguns exemplos detectados
pela reportagem.
Obra da Cozinha Comunitária é uma das várias
abandonadas, num claro desperdício de dinheiro público
MERCADO MUNICIPAL
Vergonha
somente nas promessas”,
desabafou o comerciante
que, saudosista,lembra dos
bons tempos do comércio no
local.
Para ele o Mercado
Municipal deveria ser um
atrativo para os turistas que
visitam a cidade, não um
local de aglomeração de
marginais. “Aqui era tão
bonito, e fica bem no centro
da cidade. Deveria ser
revitalizado urgentemente”.
Diversos comerciantes
que antes atuavam na área
preferiram trocar a atividade
para ganhar a vida como
ambulantes, afirmando que
na rua há muito mais
possibilidades de
rendimento, já que as
pessoas têm medo de
frequentar o local. Segundo
Dona Maria Geraldina,
cliente do mercado, hoje ela
faz compra no Mercado
Municipal porque está
acostumada com os
comerciantes. “Eu venho
aqui porque eles já sabem
do que eu gosto, mas é ruim
o estado daqui”, disse.
Outros comerciantes
garantem que se sentem
abandonados pelo poder
público e que, apesar de
pagar impostos, não
recebem nenhum benefício
de contrapartida.
Mercado Municipal não oferece nem condições sanitárias
de funcionamento tamanho o abandono