Página 14 - EDIÇÃO IMPRESSA - 413

CIRCUITOMATOGROSSO
CUIABÁ, 18 A 24 DE OUTUBRO DE 2012
CULTURA EM CIRCUITO
PG 6
Anna é doutora em
História, etnógrafa e filatelista.
TERRA BRASILIS
Por Anna Maria Ribeiro Costa
ULYSSES GUIMARÃES E OS ÍNDIOS
PROJETO ACALANTO: AS CANÇÕES DE NINAR DE TODO O MUNDO
Há 20 anos, no dia 12 de outubro,
Ulysses Silveira Guimarães (1916-1992)
deixou o Brasil. O Congresso Nacional
relembrou em sessão solene a trajetória
política do grande estadista que durante
mais de quatro décadas foi parlamentar,
por onze mandatos ininterruptos. Na
ditadura militar e na
luta pela
redemocratização do
país, teve grande
papel na oposição.
No ano de 1973,
momento em que a
ditadura militar
encontrava-se no
ápice da sua força, o
deputado Ulysses
Guimarães, à frente
do MDB (Movimento
Democrático
Brasileiro), surpreendeu o Brasil ao se
lançar anticandidato à Presidência da
República, mesmo ciente da
impossibilidade de vencer uma eleição
indireta. Mas acreditava que era possível
fazer uso da ocasião para denunciar as
arbitrariedades da ditadura e chamar o
povo brasileiro a resistir depois da
tomada do poder pelos militares em
1964.
Entre tantos
feitos na busca
incansável pela
democracia, presidiu
a Assembleia
Nacional Constituinte
e responsabilizou-se
pela promulgação da
Constituição Federal
de 1988, a “Carta
Cidadã”.
A Constituição
Federal, a sétima, se
levada em conta a
elaborada no período imperial, reserva
a garantia de direitos aos povos
indígenas. No Artigo 231, pode-se ler:
São reconhecidos aos índios sua
organização social, costumes, línguas,
crenças e tradições, e os direitos
originários sobre as terras que
tradicionalmente ocupam, competindo à
União demarcá-las, proteger e fazer
respeitar todos os seus bens”. Em
profundo reconhecimento aos seus
esforços, Ulysses foi coroado pelos
índios da tribo Kayapó com um cocar de
penas de arara azul.
Assim como Ulisses de Penélope, o
herói lendário das páginas gregas,
Ulysses de Mora também foi bravo e
virtuoso e se tornou ícone da força
humana necessária à superação das
adversidades e intempéries da vida. Tal
qual o grego que passou sua vida
rodeado pelas águas da ilha de Ítaca,
Ulysses ainda navega nas águas
oceânicas do litoral brasileiro. Mas foi
ele mesmo quem parafraseou Fernando
Pessoa em um de seus discursos:
Navegar é preciso. Viver não é
preciso!”
CIA SINFÔNICA
Por Eduardo Carvalho
Eduardo é violinista,
arquiteto e perfeccionista. É
irmão mais
velho da Família
Carvalho
Estar no colo dos pais e ouvir uma
canção. Ou cantá-la ao pé da cama para o
filho, quando os anos já passaram. Pais e
filhos sabem bem o que significa esse
momento. Aquela voz doce e suave, que
cria cumplicidade, é o acalanto, que pode
aparecer na hora do choro, da manha, do
sono...
E a sua importância na
infância em qualquer canto do
mundo agora faz parte de um projeto
do Instituto Auditório Ibirapuera, em São
Paulo. A ideia do acervo surgiu em uma das
constantes reuniões do Instituto sobre
o significado da música. “Começamos a
pesquisar, ver se existia um estudo a respeito
do acalanto e vimos que não havia nada
relevante, nem uma biblioteca ou citações na
literatura. Então resolvemos criar o site, uma
biblioteca virtual que permite o acesso de
pessoas do mundo todo”, diz Mário Cohen,
presidente do Instituto Auditório Ibirapuera.
Com o auxílio de universidades,
professores e estudiosos sobre o assunto, o
projeto está no ar desde 30 de
setembro com 90 acalantos,
matérias e reflexões sobre a
origem das canções. O site traz
desde a letra no país de origem,
a tradução e até vídeos. Para o
presidente do Instituto, levantar
essa questão é possibilitar
que pessoas de diversas
origens possam contribuir e se
beneficiar com a riqueza da
música para ninar, uma das
primeiras relações que o filho
tem com a mãe.
Além de resgatar as
canções, a ideia do projeto é
refletir sobre o acalanto. Não há
uma resposta única sobre a função da
canção de ninar, mas, segundo Mário, as
palavras ditas nas músicas ficam menos
relevantes perto do timbre da voz dos pais,
que para a criança soa como
impressão digital.
No site, os internautas
podem mandar a história, a
foto ou o filme da mãe
cantando para o filho. Depois,
as informações passam por
uma seleção e são
catalogadas no país de
origem. A intenção é que o
projeto possa ser expandido
no futuro, seja com uma
gravação em CD ou DVD até
um espetáculo de fim de ano.
A música é um grande
território de comunicação sem
fronteiras. Uma maneira de
aproximar as pessoas”, diz Mário.