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CIRCUITOMATOGROSSO
CUIABÁ, 2 A 8 DE AGOSTO DE 2012
POLÊMICA
P
G
4
www.circuitomt.com.br
Golpes cada vez mais sofisticados
CONTO DO VIGÁRIO
As vítimas ainda não aprenderam a se proteger e os criminosos continuam aplicando desde os antigos contos do vigário até os
“cibercrimes”.
Por Andhressa Sawaris Barboza. Fotos: Mary Juruna
Portugal tem sua
explicação para a
origem do termo.
Segundo a série
l i terária
Contos e
Lendas de Portugal
, da
pesquisadora Natércia
Rocha, um golpe
aplicado no século XIX
foi o responsável pela
má fama dos vigários.
Alguns malandros
Origem do conto do vigário
chegavam a cidades
desconhecidas e se
apresentavam como
emissários do vigário. O
grupo afirmava que
tinham uma grande
quantia de dinheiro numa
mala que estava bem
pesada e que precisaria
guardá-la para continuar
viajando. Mas, como
garantia, solicitavam aos
moradores da cidade
uma quantia de
dinheiro para viajarem
tranqüilos. E assim
desapareciam.
Quando a população
abria a maleta
descobria um monte
de bugigangas sem
valor. E assim, a fama
do vigário era
manchada.
O melhor é se prevenir
O gerente de
fiscalização e controle do
Programa de Orientação e
Proteção ao Consumidor
(Procon), Ivo Firmo,
aconselha que aqueles que
compram pela internet
procurem dar preferência a
sites confiáveis. Um das
formas de verificar a
confiabilidade desses sites
é ver se o domínio ou
endereço está cadastrado
no país. Para isso, você
pode acessar
www.registro.br e buscar
pelo nome do site. Todos
os sites com domínio no
Brasil estão registrados e
devem aparecer. “Se não
aparecer nada, desconfie,
porque na maioria das
vezes os bandidos
hospedam sites em
domínio de outros países”,
alerta. Os cibercriminosos
também se aproveitam de
acontecimentos globais
que geralmente atraem o
interesse do público. Eles
enviam links que levam o
usuário a baixar
programas espiões ou
vírus. No ano passado,
alguns dos mais comuns
foram: Terremoto no
Japão: e-mails pedindo
doações surgiram poucas
horas após; Morte de
Osama bin Laden: site
diziam ter fotos do
terrorista morto, mas ao
clicar no link o usuário
tinha o computador
infectado por vírus.
São várias as versões
de “contos do vigário”. O
que todas guardam em
comum: o personagem
principal é um golpista.
Antigamente os contos
restringiam-se a golpes
como o do bilhete
premiado. Com o avanço
da tecnologia, a internet
passou a ser um
instrumento fácil para
pessoas mal intencionadas
atacarem, com grande
chance de sucesso, suas
vítimas. E, apesar de bem
conhecidos, muita gente
cai nos chamados golpes
virtuais. Atualmente, a
Coordenadoria
d e
Inteligência
Tecnológica
d a
Polícia Civil
(Cintec),
investiga cerca de 130
processos dos quais os
cibercriminosos ainda não
foram identificados. “O
anonimato que a internet
permite dificulta solucionar
os casos e chegar até os
autores dos crimes”, diz o
delegado Anderson Veiga.
“O golpe só existe
porque a vítima vê uma
vantagem fácil”, completa
o delegado responsável
pelo setor que averigua
crimes de estelionato no
Centro Integrado de
Segurança e Cidadania
do bairro
Planalto
(
Cisc
Planalto), Waldeck Duarte.
Foi o que aconteceu
com o publicitário David
Lucas.
No começo de
março, ele comprou
roupas pela internet e,
além de não receber os
produtos, o suposto site de
vendas tirou do ar o
Serviço de Atendimento ao
Cliente (SAC) e não
respondeu mais as suas
ligações e e-mails. “O site
vendia camisetas com um
preço bom, mas tinha que
comprar o pacote com
dez”, conta. De acordo
com David, a loja
realmente existe e faz
vendas pela internet, mas
não conseguiu identificar
o site do qual comprou.
“O que tem
acontecido é que muitos
golpistas montam uma
página idêntica à de sites
que são idôneos, inclusive,
atualizando informações
sobre os produtos”, diz o
delegado Veiga. David
suspeitou que o site não
fosse idôneo quando foi
pesquisar sobre o registro
dele e deu conta que a
página era um blog.
Infelizmente era tarde, pois
já havia efetuado o
pagamento no valor de R$
405,00, ele espera resolver
judicialmente a questão e
encontrar os responsáveis.
A vítima diz que não
desconfiou de nada,
“durante seis dias eles me
passaram todas as
informações que pedi,
prometeram enviar a
encomenda na semana
seguinte e não chegou até
hoje”, lamenta. O
delegado da Cintec conta
que casos como o de
David não são raros, “na
verdade é muito comum,
porque os criminosos se
preparam bem antes de
aplicar o golpe,
geralmente, eles já têm os
dados pessoais da
pessoa”. Nesse sentido,
Veiga alerta àqueles que
têm perfis em sites de
mídias sociais para que
tenham cuidado quanto às
informações que
disponibilizam. “Quanto
mais coisas você publica
em seu perfil, mais
vulnerável está aos
golpistas”, conta.
A aluna de medicina,
Aline Bertinetti também foi
vítima de um golpe. Ela
conta que comprou um
filhote de cachorro da raça
Yorkshire através de um site
intitulado “Yorkstar”.
Depois de depositar R$
500,00 na conta da
pessoa com quem
negociou, Aline relata que
demorou pra desconfiar.
“Depositei direto na conta
dela, falei com a suposta
dona do canil por telefone
diversas vezes. Aí quando
eu mandei o dinheiro ela
ficou de enviar a cachorra.
Só que foi muito estranho
porque o site não saiu do
ar tão rápido”.
De acordo com Aline,
a mulher ainda entrou em
contato por dois dias
seguidos para dizer que
não havia enviado ainda
devido ao atraso no voo.
“Depois o site saiu do ar e
nunca mais voltou”, diz.
Em consulta ao site da
Receita Federal, a
reportagem constatou que
o CPF informado pela
pessoa responsável por
enviar o cachorro
corresponde ao nome pelo
qual a golpista se
identificou para a vítima:
Ivone Sauri Leal. No site de
relacionamentos
Facebook, encontramos
um perfil com este nome,
tentamos entrar em
contato, mas não
obtivemos resposta até o
fechamento dessa matéria.
Aline se diz decepcionada,
que desistiu de ter o
cachorro e não pretende
comprar outro tão cedo.
Mas não é só pela
internet que os golpistas
atuam, outro modo muito
comum de praticar esses
crimes é pelo telefone. Em
um dos golpes, bandidos
enviam mensagens
dizendo que a pessoa foi
premiada e para receber o
prêmio precisa fazer um
depósito. Manoel Elias de
Lima passou por uma
situação semelhante, um
homem ligou se fazendo
passar por um parente que
Manoel não via a certo
tempo, disse que estava
com o carro quebrado na
estrada e que precisava de
dinheiro emprestado, pois
a oficina onde estava não
aceitava cheque. Depois
de depositar mais de R$
1.000,00, ele se deu conta
que era um golpe.
CRIMES FICAM
IMPUNES
Os golpes são
enquadrados como crimes
de estelionato. “São
crimes comuns. A pena é a
mesma, o que muda
mesmo é o meio”, explica
Veiga. A penalidade para
o estelionato é de um a
cinco anos de prisão, mas,
conta o delegado que a
própria legislação torna
difícil punir esse tipo de
crime. Uma possibilidade
de inibir os golpes virtuais
é criar penas mais rígidas,
uma vez que o campo é
atrativo aos cibercriminosos
devido ao anonimato da
internet.
“Outra dificuldade
para investigar os golpes
virtuais é que dependemos
de dados de acesso dos
provedores, as empresas
que gerenciam o
conteúdo; se demoram
para nos passar (os dados)
podemos até perder as
pistas”.
Delegado da Cintec, Anderson Veiga, conta que o
anonimato da rede di f icul ta ident i f icar criminosos
“O melhor é agir de
forma prevent iva”, diz
Ivo Firmo do Procon
O publicitário David ainda espera
por compras no valor de R$ 405,00
Cr imi nosos
vendem até
f i lhotes de
Yorkshi re que
nunca são
env i ados
Antes de efetuar pagamento, verifique se o site tem
registro no país. É só acessar WWW.REGISTRO.BR
Alguns dias depois de aplicarem os golpes, bandidos tiram o site do ar