Page 4 - 398

Basic HTML Version

CIRCUITOMATOGROSSO
CUIABÁ, 5 A 11 DE JULHO DE 2012
ECONOMIA
P
G
4
www.circuitomt.com.br
SUPERSAFRA
Mais de 36 milhões de toneladas
A soja continua sendo o principal produto de exportação, mas o milho e o algodão também têm se mostrado muito rentáveis.
Por Andhressa Sawaris Barboza. Fotos Mary Juruna
Os produtores de soja
de Mato Grosso têm muitos
motivos pra comemorar:
este ano a safra chegou a
23 milhões de toneladas. A
colheita do milho começou
há três semanas e espera-se
uma safra recorde, de 13
milhões de toneladas. Mas
o que parece uma boa
notícia pode não ser no
contexto mundial. A alta na
produção em outros polos
vai aumentar os estoques e
provocar uma queda nos
preços. Acerca do preço,
que está em R$ 14 a saca,
os especuladores acreditam
que pode chegar a R$ 10.
Apenas 56% desta safra já
foram negociados, o que
acontece é que há
compradores esperando a
possível queda.
Mas essa supersafra de
milho não é por acaso: na
primeira de 2011 o total foi
de 1,5 milhão de hectares
plantados. Já na segunda,
que está sendo colhida
agora, foram 2,5 milhões
de hectares. Não é só isso:
além do aumento no
tamanho da área plantada,
as condições climáticas
foram favoráveis, levando a
uma produtividade 20%
maior. Os números atendem
às expectativas do produtor,
mas por outro lado a safra
também foi boa em outras
regiões, o que pode levar a
NÚMEROS
SOJ A
Colhei ta de
23
mi lhões de toneladas
Cus to de
R$2
por hectare plantado
50%
da próx ima saf ra já es tão vendidos
MI LHO
Colhei ta de
13
mi lhões de toneladas
Cus to de
R$1,3
por hectare plantado
56%
des ta saf ra vendidos
Crise leva 30 suinocultores
a fecharem suas granjas
Se a situação está
relativamente
tranquila para os
produtores de grãos e
algodão de Mato
Grosso, para os
suinocultores as coisas
não vão nada bem.
O setor amarga a
pior crise desde 2002
e 2009, quando
houve o surto da
gripe H1N1. Mais de
30 produtores já
fecharam as granjas,
deixando quase 250
funcionários
desempregados,
enquanto o preço de
mercado da carne
chega ao menor valor
registrado na última
década, R$ 1,65.
É o caso da
produtora Dilamar
Pelissa, de Sinop. Ela
conta que já acumula
uma dívida de mais
de R$ 1 milhão.
“Ainda não fechamos,
estamos esperando
pra ver se até agosto
melhora, mas ainda
acho difícil; mesmo
que caiam os
impostos hoje, já seria
tarde”, diz.
Já dura um ano o
embargo russo à carne
suína dos estados do Rio
Grande do Sul, Paraná e
Mato Grosso, onde a
situação é mais grave
devido ao alto valor do
ICMS que chega a 12,5%.
Além disso, desde
fevereiro a Argentina
dificulta a venda, o que
representa 12,4 mil
toneladas que deixaram
de ser exportadas para o
país vizinho. Desde o
início do ano, a
exportação caiu 47,50%
em volume e 48,62% em
recei ta.
De acordo com o
presidente da Associação
dos Criadores de Suínos
(Acrismat), Paulo Lucion,
o que a entidade busca
junto ao Governo
Federal é que a carne
suína seja incluída na
Política de Garantia de
Preços Mínimos, a
PGPM. “Não houve
queda no consumo de
carne suína no país,
por isso não dá pra
dizer que a
suinocultura está em
crise, quem está é o
suinocultor”, diz.
O preço mínimo é
uma imposição, por
meio de regulações ou
impostos, que tabula
um preço mínimo para
uma
mercadoria qualquer.
Hoje estão
contemplados produtos
como arroz, milho, trigo
e algodão.
Marcos Gattas
Pessoa, economista e
professor da
Universidade Federal
de Mato Grosso,
explica que a fixação
de um preço mínimo
pode funcionar para
conter uma crise. No
entanto, a medida
requer outras ações por
parte do governo.
“Além de garantir que o
produtor não fique no
prejuízo, é preciso mais
incentivo aos pequenos,
uma vez que em
momentos de crise no
setor quem quebra é
aquele com menor
capital de giro”, diz.
um excesso do produto no
mercado e a uma queda
nos preços.
Para o mercado do
algodão, produção
considerada de alto risco
para o produtor, as chuvas,
que beneficiaram outras
culturas, deixaram prejuízos.
De acordo com Daniel
Latorraca, gestor do Instituto
Mato-grossense de
Economia Agropecuária
(Imea), espera-se que
diminua a área plantada
para o próximo ano, que
hoje é de 722 mil hectares.
A informação é
contestada pelos
produtores. Para o assessor
técnico, em Sinop, da
Associação Mato-grossense
de Produtores de Algodão
(Ampa), Félix Kaniecik,
“falar que a produção vai
ser baixa pode ser
especulação, uma vez que
menos de 2% foram
colhidos e esta é a segunda
safra, plantada no ano
passado”.
Comparando as
culturas da soja, do milho e
do algodão, é possível
compreender por que este
último traz mais riscos. Isso
acontece devido a três
fatores: custo de produção,
intervalo sanitário e
condições climáticas.
Para o plantio da soja
o agricultor gasta cerca de
R$ 2 mil por hectare; é
preciso também um
intervalo curto para plantar
novamente e se adapta
muito bem ao clima da
região. O milho é o que tem
menor custo, R$ 1,3 mil por
hectare, pois no rodízio de
culturas ele é plantado logo
após a soja, o que reduz
seus custos já que aproveita
grande parte dos benefícios
para o cultivo da soja.
No caso do algodão,
além de gastar mais, o
agricultor deve esperar um
tempo maior entre um
plantio e outro. A medida se
deve ao chamado intervalo
sanitário que é o período
entre as safras para inibir a
proliferação de pragas.
Trata-se de outro ponto de
risco, uma vez que o
algodão é muito sensível às
condições climáticas.
Contudo, devido aos bons
Suinocul tores pedem ajuda; 30
produtores já fecharam as granjas
preços, é uma atividade
muito rentável, o que faz
com que compense correr
os riscos.
“As crises na produção
de 2006 e 2007
demonstraram a
importância do
planejamento e da
organização”, afirma
Naildo Lopes, da Aprosoja,
que também é engenheiro
agrônomo.
A produção de Mato
Grosso atende ao mercado
nacional e à exportação.
Até o momento a primeira
safra de 2011 abasteceu o
mercado interno. Já a
segunda safra, que está
sendo colhida agora em
2012, deve atender aos
países que compram nossos
produtos como Arábia
Saudita (e outros membros
do Oriente Médio) e
Espanha.
O preço da saca não variou muito desde o início
do ano, mas com os estoques cheios e safra recorde
pode cair até agosto, quando termina a colheita
O produtor vive um momento com toda sua produção
vendida e parte da próxima já negociada. O produto está
bem valorizado e não há especulação de queda
Com a estabilidade dos preços da matéria-prima para alimentar
as matrizes e com os baixos valores da carne suína, produtores
não conseguem bancar custos e estão abandonando a atividade
Há divergências entre pessoas da área quanto à produtividade.
Mas o algodão mantém um bom preço de mercado e não deve
variar muito até o final da colheita que começou há duas semanas
O bom resultado dos produtores de Mato Grosso se deve
ao rodízio de culturas que não sobrecarrega o solo
O cultivo do algodão é considerado de alto risco: custos
de produção chegam a R$ 5 mil por hectare
Colheita do milho termina em agosto, mas já supera as
expectativas; é esperada uma safra recorde