CIRCUITOMATOGROSSO
CUIABÁ, 5 A 11 DE JULHO DE 2012
CULTURA EM CIRCUITO
PG 5
www.circuitomt.com.br
O ENCANTAMENTO DA LITERATURA DE CORDEL
Rosemar Coenga é
doutor em Teoria Literária e
apaixonado pela literatura de
Monteiro Lobato
cultura@circuitomt.com.br
ALA JOVEM
Por Rosemar Coenga
ABCDEF....GLS
Por Menotti Griggi
A UTOPIA PARA A “CURA GAY”
Menotti Griggi é
geminiano, produtor
cultural e militante incansável da
comunidade LGBTT
cultura@circuitomt.com.br
CADEIRA DE BALANÇO
Por Carlinhos Alves Corrêa
Carlinhos é jornalista
e colunista social
cultura@circuitomt.com.br
LEVADA PELAS MÃOS NEGRAS
Ao entardecer a fé isola no Alto do
Rosário, a multidão aguarda com muita fé.
Neste momento, obediente ao chamado do
Mestre Amado Jesus, D. Lourdes Maria
Campos Oliveira dava o último suspiro, sendo
conduzida pelas mãos negras de São Benedito
aos braços da Virgem Maria, que envolveu a
filha com o manto azul nos planos espirituais.
O seu distanciamento do Planeta Terra
acontece realmente na hora da procissão de
seu Santo protetor São Benedito, onde a
mesma foi rainha. Um exemplo de mulher
voltada para o bem, à frente de diversas
causas sociais, religiosa, dominando, com a
maior humildade, qualidades natas. Mãe
amorosa dos filhos: Lurdinha Nigro e
Edmendo Oliveira, cercada pelo carinho dos
netos, bisnetos, noras, genros e demais
familiares, enfim, querida nos quatros costados
da cuiabania. A poesia, as telas pintadas pela
escritora Lourdes Oliveira estão na memória
daqueles que admiram o seu talento de mulher
de uma cultura ímpar na Grande Cuiabá. Do
alto, fazendo parte do coral de Nossa Senhora
da Medalha Milagrosa, envolvendo a todos
que lembrarem de suas boas ações deixadas
nesta terra, com muitas luzes nesta caminhada.
O OLHAR TRISTE
As festas do glorioso São Benedito, nos
três dias do tributo, ao amanhecer,
iluminação do adro da Igreja do Rosário, a
multidão presente prestava atenção na
homilia proferida pelo sacerdote. Domingo
festivo, a procissão com cerca de 35 mil
pessoas, lágrimas, fé, velas acesas, parecia
um colar de brilhantes na Av. Historiador
Rubens de Mendonça. É o Santo milagroso
passando e exigindo dos políticos, dos
homens do poder, enfim, da sociedade,
mais transparência em suas ações, olhar o
outro que está a seu lado com olhar de
humildade. São Benedito, considerado
Santo festeiro da Cidade Verde, idolatrado
pela fé do povo cuiabano. D. Esculápia nos
disse que os olhos de São Benedito estão
tristes, ele está dando uma mensagem que
os políticos que ganharem estas eleições
tenham um senso de responsabilidade com
o povo cuiabano. Achei fantástica a fala da
vidente ao explanar que muito mel vai
banhar o solo cuiabano com as bênçãos de
São Benedito.
NA CAMINHADA DOS FIÉIS
Antigamente os fiéis, juntamente com
muita irmandade de Filhos de Maria, São
Benedito, Santa Rita, Imaculada Conceição,
Confraria do Espírito Santo, acompanhavam
a caminhada cristã, todos louvando e
venerando o Santo. A cidade participava. O
povo presente neste ato religioso. A
procissão deixava a igreja, os sinos
anunciavam a saída do Santo, debaixo de
um imenso foguetório, colorindo o céu de
cores. Espetáculo maravilhoso. Neste trajeto,
a Banda do Mestre Inácio repicava o
“Sanctus, Sanctus, Sanctus”, “Coração
Santo”, “Queremos Deus”, hino de São
Benedito, Senhor Divino, São João, de
acordo com o Santo do dia. Juntamente
com o cortejo, rezavam o terço sob fogos de
artifício, que espocavam no céu, e a Banda
do Mestre Inácio respondia aqui na terra.
Governador, prefeito, chefe de polícia,
deputados, vereadores, adversários políticos,
todos pedindo ajuda para o mesmo Santo.
Hoje, são poucos políticos que fazem essas
aparições: Júlio Campos, Francisco Vuolo,
Jaime Campos, Guilherme Maluf, cidadãos
que cresceram na fé cristã. Também na
Cuiabá de outrora. Mulheres de vida fácil,
de vida sombria, soldados, biscates,
querendo e precisando de bênção do Santo,
todos suplicando perdão.
VERBO FAZER
Na Cuiabá de fatos, história,
considerada terra-mãe, há homens que
visam a gerenciar esta terra descoberta por
Pascoal Moreira Cabral. Segundo as más
línguas, os políticos vão usar de novo o
verbo fazer como trunfo de campanha. No
fundo não fazem nada para esta capital que
está quase chegando aos seus 300 anos. De
um lado a descrença pela política que
assola o solo cuiabano; os candidatos vão
ter que usar o bom-senso para a população
analisar e dar o seu voto de confiança.
Principalmente os candidatos que batem no
peito dizendo que amam Cuiabá, depois
dão as costas e banana para o povo
cuiabano. No fundo, o povo está com medo
de votar, o voto será igual a um leilão: “dou
lhe uma, dou lhe duas, dou lhe três!”. É bom
pensar três vezes antes de votar. Depois não
venham chorar pelo leite derramado. Já
diziam as velhas raposas, depois de serem
eleitas: “Chora, bugrada, que o pranto é
livre! Quá, quá, quá, quá”.
O que é literatura de cordel?
Literatura de cordel
é um tipo de
poema popular, originalmente oral, e
depois impressa em folhetos rústicos ou
outra qualidade de papel, expostos para
venda pendurados em cordas ou
cordéis, o que deu origem ao nome
vindo de Portugal, que tinha a tradição
de pendurar folhetos em barbantes. No
Nordeste do Brasil, o nome foi herdado
(embora o povo chame esta
manifestação de folheto), mas a tradição
do barbante não se perpetuou. Ou seja,
o folheto brasileiro poderia ou não estar
exposto em barbantes. São escritos em
forma rimada e alguns poemas são
ilustrados com xilogravuras, o mesmo
estilo de gravura usado nas capas. As
estrofes mais comuns são as de dez, oito
ou seis versos. Os autores, ou cordelistas,
recitam esses versos de forma melodiosa
e cadenciada, acompanhados de viola,
e também fazem leituras ou declamações
muito empolgadas e animadas para
conquistar os possíveis compradores.
E não para aí: misturando humor e
crítica social, vida religiosa e
sexualidade, os versos dos repentistas
constituem um modo especial de olhar
para a vida e para a alma do povo
brasileiro.
Feira de versos: poesia de
cordel
é um livro da coleção
Para Gostar
de Ler
, idealizada para jovens leitores.
Nessa obra o leitor terá oportunidade de
conhecer três gigantes do cordel:
Leandro Gomes de Barros, João
Melquíades Ferreira da Silva e Patativa
do Assaré, poeta matuto, que compõe
seus versos escritos nos moldes dos
poemas clássicos com padrões de rima e
métrica bem definidos, mas usa
linguagem simples, quase um dialeto,
com o qual se comunica diretamente
com o homem comum.
Para pequenos leitores destaco o
primoroso trabalho do poeta
pernambucano Marcus Accioly com a
obra
Guriatã: um cordel para menino
.
Accioly foi menino de engenho, nasceu e
viveu no engenho laureano, Zona da
Mata de Pernambuco, até os 11 anos de
idade. Apreciou quando criança esse
tipo de gênero, tal como o grande poeta
João Cabral de Melo Neto no belo
poema
Descoberta da literatura,
no qual
fala de seus primeiros contatos com a
literatura de cordel. Em
Guriatã: um
cordel para menino
o poeta procura
resgatar a infância perdida, o “país-
paraíso” do engenho laureano.
Arrume um banco, apure o ouvido e
abra o coração para a leitura desses
dois livros primorosos.
Em Brasília uma discussão
acalorada opôs deputados e militantes
em audiência realizada na semana
passada na Câmara dos Deputados
para debater o “tal” projeto que
permite a psicólogos realizar
tratamento para ‘curar ’ lésbicas, gays,
bissexuais, travestis e transexuais. A
sessão reuniu psicólogos,
parlamentares e manifestantes a favor
e contra a proposta.
Apelidado de “cura gay ”, o
projeto, de autoria do deputado João
Campos (PSDB-GO), presidente da
Frente Parlamentar Evangélica, quer
vetar a validade de dois dispositivos da
Resolução 1/99 do Conselho Federal
de Psicologia que impedem psicólogos
de usar a mídia para reforçar
preconceitos ou propor tratamento
para LGBTs.
A psicóloga com especialização em
sexualidade Marisa Lobo, a favor da
proposta, afirmou que é um argumento
questionável não definir a
homossexualidade como sendo uma
doença. Ela argumenta que a retirada
da homossexualidade da Classificação
Internacional de Doenças (CID) em
1990 foi feita por votação. Para ela, a
ciência ainda “não tem entendimento
do que é a homossexualidade”.
O Conselho Federal de Psicologia
não enviou representante, mas
encaminhou um manifesto à comissão
contra a proposta e afirma que o
projeto, por querer alterar normas e
procedimentos em tratamentos
psicológicos, “pode ser objeto de
questionamento judiciário, inclusive
com o argumento de sua
inconstitucionalidade, já que o PDC
flagrantemente exorbita a função do
Congresso”.
O coordenador da Frente
Parlamentar Mista pela Cidadania
LGBT na Câmara, deputado Jean
Wyllys (PSOL-RJ), afirmou que ficou
“constrangido” com as explicações.
“Orientação sexual e identidade de
gênero são coisas que não confundem.
Uma pessoa não pode se valer disso
para querer curar uma pessoa por ser
homossexual”, disse o parlamentar.
Para ele, a proposta da psicóloga só
fortalece a egodistonia. “É óbvio que
alguém homossexual vai ter
egodistonia, mas por viver numa
cultura homofóbica que rechaça e
subalterniza sua homossexualidade. O
certo seria colocar o ego em sintonia
com seu desejo, é sair da vergonha
para o orgulho”.
Será que conseguimos também a
cura para a corrupção, roubalheira,
falcatruas e a l iberdade do Estado
Laico no Congresso Nacional?
Ou essa é uma “doença”
incurável?