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CUIABÁ, 22 A 28 DE MAIO DE 2014
Luiz Marchetti é cineasta
cuiabano,
mestre em design em arte
midia, atuante na cultura de
Mato Grosso e é careca.
cultura@circuitomt.com.br
CULTURA
Por Luiz Marchetti
Fotos: Luiz Marchetti
DANCE COMGERVANE
Esta aberta na
CASA DO PARQUE
a exposição do artista plástico
cuiabano
GERVANE DE PAULA
, para visitação e vendas de obras. A série
exalta cores, movimentos e situações de danças e festas. Você pode comprar
peças com óleo sobre tela de diferentes preços e pode também dar uma
olhada numa serie de guaches com preços ainda mais acessíveis. São várias.
Estão guardadas no escritório da Casa do Parque, solicite a gerência da casa
e confira. INFO: 065 3365 4789
LORENALYCANTADJAVAN
Você consegue imaginar as musicas de DJAVAN ainda mais
românticas? Com uma voz encantadora e belíssima presença de cena,
LORENA LY
transforma os clássicos do cantor em interpretações
espetaculares. Uma das grandes promessas da nova safra de
cantoras do Estado- Lorena Ly – canta nesta sexta dia 23 as 21h na
CASA DO PARQUE
- INFO: (65) 3365 4789 e 8116 8083
O
INSTITUTO ANTONIO PUPIN
oferece um grande presente para a cultura de
Mato Grosso. É a produção e gravação de um CD com musica dos
ÍNDIOS
XAVANTES: MIGUELIO HÃWI E PAULO RÃIRITÉ.
E o Cd
TSIDUPO
ficou
incrível. É hora de você conhecer este trabalho impar aqui em nossa região, ver a
apresentação, ouvir as musicas e adquirir por apenas 10 reais o CD dos índios
Xavantes. Este é mais um daqueles belíssimos trabalhos que muita gente não acredita
que ainda não existia e que seguramente vai se tornar um diamante no registro sócio-
antropológico de nosso Estado. Com certeza gerações futuras agradecerão por
tamanha sensibilidade. Venha você também se surpreender com esta delicadeza, com
sons direcionados para rituais belíssimos. O lançamento do CD
TSIDUPO
será nesta
QUINTA DIA 22 AS 19H NACASADO PARQUE COM ENTRADA FRANCA
. Você
está convidado! Chame os amigos! É muito bonito vivermos numa região onde temos
o prazer de celebrar a diversidade cultural com um CD que registra a expressão de um
povo, que habitava e preservava esta região muito antes de nossa chegada. Ouvi o CD
e fiquei impressionado, dotado de um poder tranqüilizante muito especial. Da uma
passada nesta quinta dia 22 na Casa do Parque, você vai gostar.
TSIDUPO
Anna Maria
Ribeiro Costa
Heitor Villa-Lobos
incorporou ao seu
repertório musical o som
das aldeias. Miguelio Hãwi
e Paulo Rãirité fazem o
percurso inverso: levam o
som da cidade para a
aldeia. De forma brilhante,
tal qual o maestro e
compositor carioca, a
dupla formada por índios
da etnia Xavante,
autodenominada A’uwé, da
aldeia Santa Clara, Terra
Indígena Parabubure,
localizada nos campos
cerrados de Mato Grosso,
tece suas composições
musicais com os fios da
pluralidade cultural
brasileira, a formar um
tecido populacional ímpar.
O universo da música
indígena Xavante, ainda
tão pouco explorado pelas
gentes não índias, se faz
presente na composição
dos primos-cantores da
dupla
Tsidupo
, que
intercalam às suas vozes
instrumentos musicais
tradicionais – flauta e
chocalho – e o violão. Em
2008, ano de nascimento
da dupla, Miguelio iniciou
seus estudos musicais em
Rondonópolis, momento
em que reconheceu sua
paixão pelo violão,
adquirido em Barra do
Garças com recursos
próprios. É Miguelio quem
declara: “amei o violão”. O
sopro e a percussão
produzidos por Paulo
Rãirité unem-se à vibração
das cordas do violão de
Miguelio Hãwi e suas
vozes nos conduzem a
uma atmosfera de
espiritualidade.
Tsidupo
,
instrumento musical de
sopro formado por dois
tubos que se unem por um
cordel de algodão, traz na
sequência ligeira das notas
musicais a lembrança do
canto do inhambu. Sem
que produza nota musical
alguma, a flauta é vista
sempre carregada nas
cerimônias masculinas de
encerramento da corrida
chamada
Tsa’uri’wa
, que
festeja a transição da
adolescência à fase adulta,
nas mãos de homens do
clã
Porepza’ono
que
acompanham outros
homens participantes da
corrida de toras de buriti.
Ouve-se sua melodia no
ritual das máscaras de
iniciação masculina, nas
sessões de cura, na
confecção de flechas e
também nas expedições de
caça e coleta nos locais
onde há taquaras em
abundância, matéria-prima
destinada à sua confecção.
Grande responsabilidade
recai ao tocador da flauta:
como a melodia produzida
pelo sopro simboliza a
manifestação de sua voz, é
tocada por pessoas que
destinam suas palavras ao
bem da coletividade da
aldeia. Aqueles que
profetizam maldades não
conseguem tocar
tsidupo
.
O
dzo
, instrumento
musical de percussão, é
considerado pela
sociedade Xavante como
um importante símbolo de
posição social.
Pertencente aos homens
de idade avançada, ao ser
entoado exige o respeito
dos ouvintes. Cabaça e
haste de madeira são
unidas por um preparado
de base vegetal
com
propriedades
mágicas.
Acreditam os índios que
seu dono está protegido de
doenças. É avistado
principalmente nos rituais
do
Way’á
, de nominação
das mulheres e da corrida
de toras de buriti. O
dzo
precisa das vozes
masculinas para existir.
Flauta e chocalho
acompanham o violão de
Miguelio que empresta ao
som do cerrado e das
matas os acordes do
mundo urbano. A dupla
Tsidupo
, de Miguelio e
Paulo, apropria-se de
maneira singular dos
conhecimentos milenares
de seu povo e daqueles
apreendidos com gentes
das cidades para compor
as letras de suas músicas.
Paixões, amores proibidos,
desamores, a jovialidade e
a beleza femininas, a
enfermidade, a saudade de
quem partiu e as
influências citadinas são
fontes de inspiração para
suas composições
musicais. Aldeia e cidade
unem-se em nome da
sensibilidade musical dos
músicos.
Se a presença
feminina na confecção da
flauta
tsidupo
se apresenta
na sutileza da fiação de
suas cordas de algodão
tingidas de vermelho
urucum, é pela dupla
Miguelio e Paulo que se
começa a conhecer os
segredos milenares do
povo Xavante,
fortalecendo o diálogo
entre almas tão diferentes,
mas que dão sentido a este
Brasil multicultural.
Fotos: Banavita