CIRCUITOMATOGROSSO
CUIABÁ, 1 A 7 DE NOVEMBRO DE 2012
CULTURA EM CIRCUITO
PG 6
Anna é doutora em
História, etnógrafa e filatelista.
TERRA BRASILIS
Por Anna Maria Ribeiro Costa
EXECUTIVOS DE PEDRA
VERSUS
POVO DAS CINZAS
A FLAUTA MÁGICA
“
Os cegos”, de Pieter Bruegel, pintor
holandês do século XVI, inspirou um
grupo teatral. O cenário foi a Avenida
Paulista. No dia 19
de outubro, atores
vestidos de
“
executivos de
pedra” se
apresentaram no
movimentado centro
financeiro de São
Paulo. A
indumentária era
comum ao dia a dia
de quem trabalha:
ternos e terninhos. Mas o que parou o
trânsito de carros e transeuntes foi o
estado das roupas, cobertas por cinco
quilos de argila. Indiferente, sem
demonstrar emoção às demais pessoas, o
grupo andou lentamente pelas calçadas,
de olhos vendados como os personagens
de Bruegel, dando a impressão de que
eram feitos de pedra. O sentido da
representação era o de criticar o
“
aprisionamento ao trabalho que deixa
diariamente
as pessoas
paralisadas”.
A
preocupação
dos
“
executivos
de pedra”
leva a uma
importante
reflexão
sobre como
a relação trabalho-capital, tão discutida
por Marx, vem modificando os
sentimentos das pessoas. A petrificação
dos personagens indica que estão
estranhos às emoções, sejam elas
próprias ou alheias. Corpos duros e
sólidos, como a natureza das pedras,
manifestaram a concreção das emoções.
Uma analogia com “executivos de
pedra” e “povo das cinzas” pode ser
construída com o episódio ocorrido nas
ruas de São Paulo: Avenida Paulista e
Aldeia Nambiquara. No início do século
XX, Roquette-Pinto chegou à Aldeia
Nambiquara. Ele tinha acabado de
chegar de Paris e ao entrar em contato
com os índios, cobertos de cinzas,
deparou-se com homens da “Idade da
Pedra”, conforme as suas palavras. Ao
contrário dos “executivos de pedra”, os
sentimentos indígenas eram expressos a
cada gesto e, não tão diferente dos dias
atuais, possuindo pouquíssimos bens
materiais. Os índios mostraram que havia
uma forma de viver que permitia a
necessária expressão de sentimentos.
Com simplicidade estonteante,
demonstraram que na relação trabalho-
homem permeavam o riso, a alegria e o
lazer. Por isso, provavelmente, foram
chamados de “preguiçosos” e outros
tantos adjetivos pejorativos encontrados
na documentação do século XVI e que se
arrastam até hoje.
MELHOR REMÉDIO
Por José Augusto Filho
José Augusto é diretor de
teatro e produtor de programas de
variedades
Era uma vez um caçador que
contratou um feiticeiro para ajudá-lo
a conseguir alguma coisa que lhe
pudesse facilitar o trabalho nas
caçadas. Depois de alguns dias, o
feiticeiro lhe entregou uma flauta
mágica que, ao ser tocada,
enfeitiçava os animais, fazendo-os
dançar.
Entusiasmado com o instrumento,
o caçador organizou uma caçada,
convidando dois outros amigos
caçadores para a África.
Logo no primeiro dia de caçada, o
grupo se deparou com um feroz tigre.
De imediato, o caçador pôs-se a
tocar a flauta e, milagrosamente, o
tigre, que já estava próximo de um de
seus amigos, começou a dançar.
Foi fuzilado à queima-roupa.
Horas depois, um sobressalto.
A caravana foi atacada por um
leopardo que saltava de uma árvore.
Ao som da flauta, contudo, o
animal transformou-se, ficou manso e
dançou.
Os caçadores não hesitaram e
mataram-no com vários tiros.
E foi assim, a flauta sendo
tocada, animais ferozes dançando,
caçadores matando.
Ao final do dia, o grupo
encontrou pela frente um leão
faminto.
A flauta soou, mas o leão não
dançou.
Ao contrário, atacou um dos
amigos do caçador flautista,
devorando-o.
Logo depois, devorou o
segundo.
O tocador, desesperadamente,
fazia soar as notas musicais, mas sem
resultado algum.
O leão não dançava.
E enquanto tocava e tocava o
caçador foi devorado.
Dois macacos, em cima de uma
árvore próxima, a tudo assistiam. Um
deles “falou” com sabedoria: “Eu sabia
que eles iam se dar mal quando
encontrassem o surdinho”.
MORAL DA HI STÓR I A:
Não confie cegamente nos métodos
que sempre deram certo: um dia podem
falhar. . .
Tenha sempre planos de
contingência.
Prepare alternativas para as
situações imprevistas.
Preveja tudo o que pode dar errado
e prepare-se.
Esteja atento às mudanças e não
espere as dificuldades para agir.
“
Cuidado com os leões surdos”.