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CIRCUITOMATOGROSSO
CUIABÁ, 21 A 27 DE JUNHO DE 2012
CULTURA EM CIRCUITO
PG 5
www.circuitomt.com.br
UM PASSEIO PELA POÉTICA DE ROGER MELLO
Rosemar Coenga é
doutor em Teoria Literária e
apaixonado pela literatura de
Monteiro Lobato
cultura@circuitomt.com.br
ALA JOVEM
Por Rosemar Coenga
ABCDEF....GLS
Por Menotti Griggi
MUSEU DE ACERVO DA CENA GAY DE CUIABÁ
Menotti Griggi é
geminiano, produtor
cultural e militante incansável da
comunidade LGBTT
cultura@circuitomt.com.br
CADEIRA DE BALANÇO
Por Carlinhos Alves Corrêa
Carlinhos é jornalista
e colunista social
cultura@circuitomt.com.br
BOAS LEMBRANÇAS
A família é o berço da vida, o
homem, por sua frágil natureza, ao
nascer requer os cuidados da família
para o seu crescimento espiritual, moral
e físico. Quando nascemos, já viemos
com a estrela para cumprirmos a nossa
missão no planeta Terra, também, somos
marcados pelo sinal da cruz, significa o
nosso distanciamento para outros planos
espirituais. Em plena plenitude, o amigo
Nico Baracat atendeu ao chamado do
Mestre Amado Jesus. Obediente, bom
filho, pai, irmão dedicado, amigo leal,
fiel a sua palavra, postura ímpar,
embora esclarecido pela palavra vida x
morte, nos deste um susto deixando um
legado com um sem-número de amigos
e só recordando das boas lembranças.
Com um princípio familiar sólido de seus
pais, Manoel de Arruda (Caboclo) e
prof.ª Sarita Baracat de Arruda, desta
união nasceu Ernandy Maurício Baracat
Arruda (Nico) e Fernando César Baracat
Arruda, filhos que são referência para os
povos várzea-grandense e cuiabano.
Nico Baracat, com uma grande agenda
de serviços prestados ao Estado (como
político o seu gabinete era referência do
bem), fazia a caridade sem olhar a
quem. Já dizia Santa Terezinha do
Menino Jesus: “Uma prova de que Deus
esteja conosco não é o fato de que
venhamos a cair, mas que nos
levantemos depois da queda”.
BAIRRISMO CUIABANO
A política no Estado aos poucos vem
perdendo o seu brilho. A dúvida dos
candidatos a prefeito de Cuiabá está
deixando muita gente de orelha em pé.
Os filhos da terra do Senhor Bom Jesus
comentam que este pleito vai ser bairrista.
Se vamos ao supermercado, velório,
casamento ou em outros eventos que
reúnem gente esclarecida, o assunto é
decepção com a política. Ouvi dizer que
eles querem votar só na gente da terra,
como fazem os campo-grandenses do
vizinho Estado do Sul. Segundo alguns
cuiabanos que residem lá, os políticos
têm compromisso com o povo da cidade,
que é um exemplo de boa administração,
é a 3ª capital do Brasil. Se esta onda
pega e os tchapa e cruz tomarem essa
decisão, o sonho dourado de muitos
caciques vai se transformar em lama. O
que adianta a capital crescer se a
mentalidade dos nossos políticos é sem
ideais?
O PRATO DA MADRUGADA
Antigamente, o Escaldado Cuiabano
mudou o comportamento das residências
e de respeitadas famílias cuiabanas. Este
prato da madrugada acabou indo parar
nas Casas da Luz Vermelha espalhadas
no “Baú Sereno”, onde as noitadas eram
largas e longas. O preparo deste prato
tinha a preferência das cozinheiras;
Noemio recebia a sua clientela no bar
Barra Limpa, que ficava no bairro Baú. Já
a grande pioneira do bairro Ribeirão do
Lipa era Madalena; os papas-finas da
sociedade, a classe política e
empresarial, todos pulavam a cerquinha
para se deliciar com este prato, numa
boa companhia. Era grande a frequência
de políticos, em especial deputados;
depois do plenário, partiam para as
noites prazerosas, amassavam o terno de
linho SS – 120, muito bem engomado,
nas camas das prostitutas. O terno
amassado era moda, exaltava o ego dos
deputados de status. A saída era se
deliciar com o “escândalo do Noemio ou
de Madalena”. Era o prato da
madrugada, a “energia da noite”.
DANÇA DO CONGO
É de origem autenticamente africana.
Esta dança geralmente fazia parte das
comemorações festivas de Nossa Senhora
do Rosário e São Benedito. Esta
manifestação africana, festa antigamente
presente nas celebrações religiosas, neste
local foi corredor do ouro de Cuiabá,
onde vários escravos prestavam esta
manifestação. A Dança do Congo é de
características dramáticas e a
indumentária colorida, associada ao uso
de espadas, simboliza a luta entre dois
potentados africanos, um representando a
noção do Rei de Portugal, o dominador, e
o outro representando a noção do Rei
Congo da África. Além da Baixada
Cuiabana, especialmente em Nossa
Senhora do Livramento, as congadas são
tradicionalmente cultuadas na primeira
capital mato-grossense, a cidade de Vila
Bela da Santíssima Trindade.
Amarrando o leitor a sugestões
palavra & imagem,
João por um fio
, de
Roger Mello (Companhia das Letrinhas,
2005) é um livro como poucos. A figura
esquemática toda branca que representa
o menino se lança a aventuras que só
conhece o devaneio, entre a vigília e o
sonho, brincando com uma colcha de mil
linhas, minuciosos desenhos e vazados em
recorrente transformação mágica Não há
duas páginas em que o tecido se repita.
O olhar do leitor encontra conforto
nas composições da bela colcha que
pertence a João, agora menino no interior
de um útero de renda e se – um beijo na
testa ainda beija – evoca o verso, a
ternura da boa-noite que fica depois da
despedida de mãe, de um pai, talvez
pescador, que lhe conta histórias, aí onde
tudo é vago... Onde é que se esconde a
noite? Dentro ou fora da colcha, abaixo
ou acima, muito acima? Onde paira a
lua que pousa crescente na mão de
João?
Entre rosáceas e estrelas de todo o
traçado, o olhar de quem lê esbarra,
enfeitiçado, em figuras e fundos em
oposição, sobreposições, índices que
fogem a uma apreensão única, muito
breve ou rápida demais. É preciso
devanear. [câmara lenta, outra órbita]
Onde se esconde a noite? A colcha de
João assume uma inusitada perspectiva:
catedral imersa num oceano de linhas,
como soa sonhos sombrios La cathédrale
engloutie, de Debussy. Existe mar na
cama?
Espiando uma página e outra, tempo
depois... No jogo palavra & imagem,
lacunas se completam apenas com novas
lacunas — espaços não preenchidos.
Desse modo, Roger Mello nos convida
para um mergulho nos sonhos e medos
que preenchem a noite do menino João.
Texto primoroso e ilustrações belíssimas,
inspiradas nas tramas dos bordados
brasileiros.
Foi lançado na semana passada, em
São Paulo, um projeto para a criação do
primeiro Museu Gay da América Latina
(com previsão para inaugurar em 2013).
Essa notícia reforçou ainda mais meu
interesse em também fazer algo em
Cuiabá – seja o lançamento de um livro, a
construção de uma sala, um espaço LGBT
que marque definitivamente a história da
cena gay cuiabana.
Eu tratei desse assunto na minha
monografia, quando concluí o curso de
Comunicação Social pela UFMT. Num dos
capítulos fiz uma abordagem dos últimos
25 anos da cena gay aqui de Cuiabá,
tentando resgatar histórias e somá-las ao
meu acervo de fotos, flyers e matérias de
jornais, entre tantas outras coisas
guardadas principalmente em minha
memória.
Acho importante colocar este material
como fonte de pesquisa para estudantes,
jornalistas, professores, pessoas que vão
escrever algo sobre a comunidade LGBT.
São milhares de informações que não
podem ficar guardadas em caixas sem
chegar como fonte de memória de uma
comunidade que tanto luta para sobreviver
à pressão da homofobia, da perseguição
e do preconceito.
Trazer à luz histórias de
como surgiram os bares, as
boates, os encontros de
intelectuais, artistas e
homossexuais são de grande
valia para que haja uma
compreensão maior de
como saímos do Bar do
Gringo (um dos lugares
frequentados pela
comunidade gay na década
de 80) até chegarmos à
Parada Gay de Cuiabá.
Em São Paulo o Museu
Gay terá duas áreas de 150
m² no total, localizadas na
estação República do metrô, e foi batizado
de Centro Cultural, Memória e Estudos da
Diversidade Sexual do Estado de São
Paulo. O objetivo é resgatar memórias da
comunidade gay, expor trabalhos que
retratem o movimento através das artes e
ser uma referência para gays que
busquem auxílio, além de fazer a
população refletir e conhecer as
dificuldades do movimento.
Meu acervo é imenso e sonho em
colocá-lo à disposição da população
para tornar esse conhecimento único para
todos. E para finalizar lembro aqui de um
vídeo dirigido por Glória Albuês –
“Zoophonia” (2001) que conta a história
da passagem do Barão de Langsdorf por
Cuiabá entre 1825 e 1829 e que trouxe
consigo o artista Hercule Florence para
desenhar todas as plantas e animais que
pudessem catalogar naqueles tempos. E
tem uma frase que ficou gravada em
minha mente que era justamente o
questionamento de Hercule: “Será que este
material chegará um dia à luz da
população?”.
Em tempos de redes sociais, esse
material será como pólvora, disso tenho
plena convicção!